Uma história da videoarte na Amazônia(Episódio 1): Pará
Em tempos de incerteza dos caminhos da pandemia da Covid19 e da condução da política sanitária pelo governo federal do Brasil, a Fundação Romulo Maiorana optou pela realização virtual do 39º Arte Pará. Em 2020, o agravamento da crise da saúde e a perspectiva sombria da contaminação e do aumento do número de mortos levaram ao cancelamento do Arte Pará pela primeira vez desde sua criação em 1982. Eventos como a Bienal de São Paulo e a Feira de Arte de São Paulo também adotaram a mesma medida preventiva. No entanto, o modelo virtual de 2021 não afastou o suporte ao Arte Pará como o patrocínio da Fibra Centro Universitário de Belém e o apoio do Instituto Inclusartiz do Rio de Janeiro.
O Arte Pará é o evento anual de artes plásticas promovido por uma empresa mais antigo do Brasil. Foi criado em 1982 por Romulo Maiorana (1922-1986), então presidente do grupo Liberal com sede em Belém. Hoje o Arte Pará é organizado pela Fundação Romulo Maiorana, dirigida por Roberta Maiorana, com um ângulo curatorial diferente em cada edição. Em 2021, o jornal O Liberal recebeu o Prêmio Vladimir Herzog (categoria de fotografia) concedido a profissionais e veículos de comunicação que se destacaram na defesa da democracia, cidadania e direitos humanos e sociais. O fotojornalista Tarso Sarraf foi premiado com uma imagem para uma campanha sobre a pandemia, principalmente na ilha do Marajó.
A historiografia nascente da vídeoarte no Pará conta com o ensaio “Um lugar fora de si: vídeo-fotografia” (2008) de Marisa Mokarzel e, em processo de revisão, o livro Pará+Video+Arte Notas Introdutórias à Historiografia do Vide ono Pará de Orlando Maneschy e Danilo Baraúna, pesquisa desenvolvida sob os auspícios do CNPq. Outro texto A história do Arte Pará praticamente se confunde com história da videoarte em Belém – isto pode ser depreendido da leitura do sólido estudo de Mokarzel. Há quase quarenta anos o arte Pará, promovido anualmente pela Fundação Romulo Maiorana, revela novos artistas e acolhe as linguagens de ponta, ou aquilo que Eduardo Kac chama de vanguarda tecnológica. Por isso, os catálogos do Arte Pará das últimas três décadas constituem uma boa fonte bibliográfica para esta história da vídeoarte no estado. Outros textos para o conhecimento da videoarte no Pará são “Limites e contaminações da imagem no espaço: mapeamento da doutorado produção contemporânea paraense” de Maneschy e Baraúna e a tese de de John Fletcher Arte Pará: Uma Interpretação Antropológica e Visual (2016).
O conjunto de artistas convidados para a presente história inclui os nascidos, residentes ou que fizeram um trabalho videográfico relevante no Pará. Hoje, com os problemas da Amazônia na ordem do dia em escala global, há uma explosão de trabalhos de vídeo de visitantes, sobretudo documentários. Dois casos exemplares são das pernambucanas Oriana Duarte e Juliana Notari e do rondoniense Gabriel Bicho. Infelizmente, não conseguimos contacto com Duarte para autorização de uso de imagem de seus vídeos que estão no acervo do Museu de Arte do Rio / MAR e da coleção Amazoniana do UFPa.
Originalmente, o projeto deste Arte Pará era apresentar uma história da videoarte em toda a Amazônia brasileira. Por motivos operacionais, foi necessário cindir o projeto, dedicando sua primeira parte à volumosa produção de vídeo no estado do Pará, deixando a história dos demais Estados para um próximo Arte Pará. Mater dolorosa (1978) de Roberto Evangelista é um marco da história da videoarte no Brasil, ao lado de artistas como Sonia Andrade, Ivens Machado e Letícia Parente que produziram no Rio de Janeiro.
Uma dimensão notável da arte brasileira no século XXI é a violentação das violências na Amazônia, sob o conceito de Michel Foucault, num repertório de guerra antropológica contra as etnias indígenas (pelo proselitismo evangélico na rota histórica das missões católicas), genocídio, estupros, queimadas, envenenamentos de aldeias indígenas e da usurpação de suas terras (e das dos quilombolas), massacre de levantes populares e assassinato contumaz de lideranças civis em embate pelos direitos dos deserdados como Chico Mendes, irmã Dorothy Stang e dezenas de lideranças indígena como Emyra Waiãpi e Paulo Guajajara (só em 2019, foram 26). Se a geografia humana é palco da violência, ela também é cena da resistência moral através da arte.
Por motivos técnicos, não foi possível incluir em nesta plataforma digital, por exemplo, as vídeoinstalações Correspondências (do espinho/ da vida/ da arte) (2004) de Acácio Sobral e Permanência de Val Sampaio e Mariano Klautau, ambas premiadas no Arte Pará de 2004 e de 2007 respectivamente. Ainda encontraram-se dificuldades para inserir vídeos no contexto tecnológico da realidade aumentada como nas propostas de Roberta Carvalho e de P. V. Dias. Por fim, a parte crítica desta apresentação está em processo de ampliação ao longo da duração do Arte Pará e novos textos individuais sobre cada artista participante serão inseridos como um processo vivo.
Paulo Herkenhoff, 2021
A cada ano, o Arte Pará é um desafio diferente, sobretudo, porque o processo de transformação da arte brasileira é muito dinâmico. Desde o primeiro Arte Pará em 1982, o sistema de arte, em Belém, se transformou com saltos produtivos na relação das universidades com a arte, na relação entre arte e educação, e de novas instituições artísticas. Por isso, o Arte Pará é sempre tão estimulante por seus caminhos imprevisíveis ao lado dos artistas e da sociedade.
Nossa patrocinadora única, a Faculdade Integrada Brasil Amazônia (FIBRA) desde o ano 2012, continua com uma parceria com o Arte Pará e a Fundação Romulo Maiorana, consolidando-se como paradigma da compreensão mais ampla da educação, como também a arte como parte da formação humanística da sociedade. Essa posição da FIBRA é uma aposta renovada para o ambiente cultural de Belém e na vocação de nossos artistas para a expressão simbólica universal. Em 2021, este patrocínio tem um valor redobrado ao sustentar atividades culturais em plena crise sanitária da Covid19.
Frances Reynolds, presidente do Instituto Inclusartiz, é o apoio institucional ao Arte Pará no ano de 2021 com a Fundação Romulo Maiorana no campo da cultura da Amazônia, da sustentabilidade e da defesa da região e de seus habitantes, da arte indígena contemporânea e do interesse em artistas do Norte do país. Estamos desenhando um programa de atividades e de cooperação conjuntas entre as duas iniciativas.
Agradecemos o apoio logístico da FGV Conhecimento. Nosso trabalho de cooperação se iniciou, neste ano, com o apoio estratégico da Fundação Romulo Maiorana em questões vinculadas à arte para a edição do livro Amazônia sustentável a ser lançado no período do Arte Pará 2021.
Temos a satisfação de apresentar o curador da exposição Uma história da videoarte na Amazônia – PA (Episódio 1): Paulo Herkenhoff, um dos pioneiros da videoarte no Brasil na década de 1970. O professor João de Jesus Paes Loureiro, poeta e teórico da cultura da Amazônia declarou que Herkenhoff é muito ligado à visualidade que vem das raízes brasileiras, sendo um promotor dessa estética insurgente. Neste Arte Pará, contamos com Vânia Leal na condução da Curadoria Educativa e com Nelson Azevedo no desenho do site de nossa videoarte na Amazônia.
Em sua versão virtual, a exposição Uma história da videoarte na Amazônia – PA (Episódio 1): inicia no dia 1 de novembro de 2021 e continuará a ser desenvolvida à medida que novos vídeos e textos forem produzidos.
Roberta Maiorana
Presidente da Fundação Romulo Maiorana
Belém, 1 de novembro de 2021