Danielle Fonseca

A Dama do Mar não sente ciúmes
Vídeo de Danielle Fonseca
Formato: MP4
Texto do vídeo: Danielle Fonseca
Narração: Cida Moreira
Ano: 2020
Sobre a artista
Indicada ao PIPA 2016. Sua poética é composta a partir de elementos da literatura, poesia, filosofia, de música e da paisagem. Participa de exposições, projetos artísticos e literários. A artista possui obras em acervos de: Casa da Cultura da América Latina da Universidade de Brasília; Museu de Arte Contemporânea Casa das Onze Janelas – Belém/PA; Museu de Arte de Belém (MABE) – Belém/PA; Museu de Arte do Rio (MAR) – Rio de Janeiro/RJ; Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC-PR) – Curitiba/PR; Museu de Artes Plásticas de Anápolis – Anápolis/GO; Fundação Rômulo Maiorana -Belém/PA; Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) – Porto Alegre/RS. Lançou em 2021 o primeiro livro “Nenhum outro som no ar pra que todo mundo ouça” de poesia e prosa (Edição da Autora).
Realizou Exposições Individuais: “A Dama do Mar não sente ciúmes”, Casa das Artes- Belém/PA, 2020; “Os Flutuantes: da narrativa às esculturas para a paisagem”, Kamara Kó Galeria – Belém/PA, 2017; “Nossos passo fazem jorrar a sede”, Centro Cultural São Paulo – São Paulo/SP, 2015; “Contraia os olhos: subitamente o ar parece estar mais salgado”, Kamara Kó Galeria – Belém/PA, 2013.
Mostras Coletivas destacam-se: “Salão de Arte em Pequenos Formatos do MABRI”, Britânia (GO)/ 2020;“Triangular: arte deste século”, na Casa Niemeyer, Brasília/DF (2020); VAIVÉM”, Centro Cultural Banco do Brasil – São Paulo/SP, Brasília/DF, Rio de Janeiro/RJ e Belo Horizonte/MG, 2019/2020; Salão Anapolino de Arte – Anápolis/GO, 2019; “Porta de Banheiro”, Centro Cultural São Paulo – São Paulo/SP, 2018; “Entre Acervos. Arte Contemporáneo brasileño”, Centro Cultural Rector Ricardo Rojas – Buenos Aires/Argentina, 2018; “Entre Acervos”, Palácio das Artes – Belo Horizonte/MG, 2018; “Do Ponto ao Pixel”, MABEU – Belém/PA, 2018; Projeto “Amazonian Video Art”, Centre for Contemporary Arts” – Glasgow/Escócia, 2016; “Brasil: Ficciones”, Espaço Tangente – Burgos/Espanha, 2016; “Film and video programme SET TO GO”, Contemporary Art Centre – Vilnius/Lituânia, 2015/2016, SINNE – Helsinki/Finlândia, 2015; “Outra Natureza”, Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa – Lisboa/Portugal, 2015; Mostra “Brasil: Ficções”, Armazém do Chá – Porto/Portugal, 2015; “Pororoca: A Amazônia no MAR”, Museu de Arte do Rio – Rio de Janeiro/RJ, 2014; Exposição “Triangulações”, CCBEU/PA – Belém/PA, Pinacoteca de Alagoas – Maceió/AL, MAM-BA – Salvador/BA, 2014; “Com Licença Poética”, MUFPA – Belém/PA, 2014; “Deslize”, Museu de Arte do Rio – Rio de Janeiro/RJ, 2013.
Há algo de salgado nesta exposição, de cloro, de sereias em busca de liberdade, de focas que estão fantasiadas de gente e vice-versa. Danielle vem trabalhando com esse território marinho já tem algum tempo, com suas esculturas surfísticas – seus extracorpos, o surfe como elemento artístico-poético, um universo aquático que sempre a rodeia. Aqui também estamos diante de uma fala encharcada. Existe uma narrativa autoficcional, uma menina que quase se afoga no mar da Bahia, que reconhece seu habitat, mas que volta a superfície.
A Dama do Mar Não Sente Ciúmes é livremente inspirado na obra do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen: A Dama do Mar (1888). Danielle tem similaridade com Ellida Wangel (personagem principal do texto escrito por Ibsen) a predileção pelo mar. “E há pessoas que pensam pertencer ao mar”. E são tantos os azuis, os mares, as ondas, que nos fazem perceber que Danielle pertence ao mar, como Ellida.
A diferença aqui é que a Dama do Mar, de Ibsen, não sente ciúmes do marido (Hartwig), e, a Dama do Mar, de Danielle, não sente ciúmes da mãe “que a divido com mais duas irmãs”. Encontramos uma multiplicidade de linguagens, nas fotos com tons dramáticos, vemos uma nadadora pronta para pular na piscina, num cenário teatral; outra, com duas mulheres sentadas, com roupas de natação, e, a cortina entreaberta, prontas para começarem o 1º ato (quem ali seria a Ellida?); e, mais uma, com colagens de uma carcaça de uma baleia, uma homenagem ao artista conceitual John Baldessari. Na imagem de John, Two Whales (with people) (2010), as imagens das baleias são acariciadas vivas no mar e, a imagem trazida por Danielle, Ossos de Baleia (com as mesmas pessoas) (2020), traz imagens de uma baleia que foi encontrada encalhada nas matas da ilha do Marajó, criando um diálogo sobre questões que nos afetam, do ecossistema. Como nos alerta a cantora Adriana Calcanhotto, na sua música Ogunté “O plástico do mundo no peixe da ceia, o que será que cantam as tuas baleias?”
Danielle traz esculturas no formato de baliza (bloco de saída) de natação, com os números 0 e 10, que são os números que os competidores não usam pois lá se formam as ondulações causadas pelas braçadas dos outros nadadores. É o lugar do desconforto. E a artista sinaliza ali, o lugar que quer estar. Como surfista, como artista.
Já na instalação sonora, interpretada pela cantora e atriz Cida Moreira, que tem uma forte ligação com o teatro. Ouvimos o texto em prosa dramatizado através da voz de Cida, texto que dá nome a exposição, e dá voz a esta personagem que não é Ellida e nem Danielle, mas é as duas.
Ao fim do mergulho na obra de Danielle, saímos com o corpo coberto de sal, os olhos apertados em miúdos óculos de natação, com os cabelos embolados numa touca, com a certeza ou leve esperança de alcançar certa liberdade como num fundo do mar. (Silêncio).
Keyla Sobral – Artista Visual
Belém, 10 de Janeiro de 2020