Arte Pará 2021 – Curadoria educativa
Educação para a videoarte nas Amazônias
A proposta curatorial para a 39ª edição do Arte Pará é concebida por Paulo Herkenhoff e tem a curadoria adjunta de Roberta Maiorana.
Herkenhoff toma a relação entre artístico-político-social e estética, afetos, poesia, paisagem, corpo, documentários entre outras questões desta edição e faz com que a direção assinalada, ganhe proporção ainda maior através do fortalecimento de: Uma história da videoarte na Amazônia: (Episódio1): Pará, em uma exposição virtual no site ww.artepara2021.com
Essas reflexões alimentam o Projeto Educativo do Projeto Arte Pará, o qual será desenvolvido com ações híbridas, presenciais e não presenciais tendo em vista o contexto pandêmico que ainda exige cuidados e restrições. O desejo encampa para troca de ideias e experiências – entre profissionais de instituições culturais e educativas, bem como curadores, artistas, pesquisadores, estudantes e público em geral -, com o objetivo de criar bases consistentes para as ações educativas que estão por vir por meio de mesa-redonda com críticos renomados, com exibições de curtas e documentários com mediação especializada, com oficinas de colagem orientada para vídeos, com bate-papo entre artistas a partir dos núcleos conceituais do educativo, com projeções externas, entre outras ações em variados espaços físicos e virtuais.
Com essa direção o Projeto Educativo terá a seguinte proposição para a Ação Educativa: Educação ampliada para a videoarte nas Amazônias.
Os termos Educação e Amazônias devem ser compreendidos como um conceito plural, capaz de tomar partes por um todo, por seu caráter mais didático com a ata curatorial propostas por Paulo e Roberta, numa perspectiva de trabalhos educativos desafiadores que através da cibercultura chegarão a espaços antes nunca navegados.
A parceria com o SEI – Sistema Educacional Interativo da Secretaria de Educação do Estado do Pará, uma metodologia inovadora, que leva o Ensino Médio Regular Presencial, através da Mediação Tecnológica, às comunidades do Estado do Pará, vai reverberar a Arte educação do núcleo educativo, Paisagem Humanizada na Amazônia.
Assim, a expressão artística com linguagens diversas, a produção de conhecimento, o acesso às experiências estéticas, a democratização de espaços têm sido marcas nas edições do Arte Pará e em sua 39ª edição não seria diferente, ao apresentar uma exposição virtual, trazendo um recorte importante por meio da videoarte que é uma forma de expressão artística, utilizando a tecnologia do Vídeo em artes visuais, desde os anos 1960.
Nesse sentido, constata-se uma proposta pedagógica construtivista, que se alia ao processo construído na Aprendizagem Continuada da Medição Cultural e a Curadoria Educacional do projeto Arte Pará. A metodologia desenhada tem o ponto de atenção na experiência para o espaço expositivo virtual e, fundamentalmente, na construção autoral de percursos na curadoria educativa dos professores, mediadores e público em geral. Pois, como diz Barbosa (2010, p.2): “A arte na educação afeta a invenção, inovação e difusão de novas ideias e tecnologias, encorajando um meio ambiente institucional inovado e inovador.
Desejo que as experiências educativas caminhem para o processo de sistematização do ensino e aprendizagem para a arte contemporânea, através do pensamento dos artistas em suas práticas artísticas.
Acredito ser necessário construir um desenho educacional não apenas cronológico, mas crítico e, acima de tudo, político, para a contemporaneidade, para a arte contemporânea.
Que nosso projeto se renove a cada edição!
Vânia Leal
Mestre em Comunicação, Linguagem e Cultura. Docente da Secretaria de Educação desde 2004. Coordenadora e Curadora Educacional do Projeto Arte Pará desde 2007. Atua na área de curadoria e pesquisa em Artes, tendo participado de júris de seleção e premiação e organizações de salões como o 9º Salão de Arte Contemporânea SESC Amapá em 2013, Salão UNAMA de Pequenos Formatos, da Curadoria da individual de Flavya Mutran, Odair Mindelo, Elciclei Araújo no Edital do Banco da Amazônia. Foi curadora de mapeamento da região norte no Projeto Rumos Itaú Cultural de Artes Visuais, Edição de 2011. Consultora Curatorial do Projeto Arte Contemporânea – SEBRAE – em Rio Branco no Acre. Curadora Educacional da Exposição Amazônia – A Arte no Museu Vale em Vitória – ES e no Palácio das Artes em Belo Horizonte – MG em 2010. Curadora Educacional da Exposição Fermata de OSGÊMEOS no Museu Vale em Vitória – ES em 2012. Curadora Educacional da Exposição Das Viagens, dos Desejos, dos Caminhos em 2014 sob a curadoria geral de Bitu Casudé no Museu vale em Vitória – ES. Curadora da mostra Itinerante Circuito das Artes Triangulações em Belém, no ano de 2014. Avaliadora de seleção Rumos Itaú Cultural edição 2015 e 2016. Avaliadora de seleção Rumos Itaú Cultural 2017/2018. Curadora indicadora Prêmio Pipa 2017. Curadora da Exposição Mastarel: Rotas Imaginais da artista Elaine Arruda no Banco da Amazônia em 2019. Curadora Exposição Tecidos de Certeza da artista Elisa Arruda na Galeria Elf em 2019. Comissão de Seleção do 24º Salão Anapolino de Arte – em 2019. Comissão de seleção do Edital Rumos Itaú Cultural 2019/2020. Curadora e organizadora da Coleção Guajará de artistas paraenses que faz parte do Museu de Artes Plásticas de Anápolis – (MAPA), ano 2021. Vive e trabalha em Belém.


Por John Fletcher
Arte Pará, uma Longa Jornada
O Arte Pará teve sua primeira ocorrência no ano de 1982 a partir de uma reunião com representantes das artes visuais de então, reunião a qual foi idealizada e capitaneada pelo jornalista e Presidente do Grupo Liberal, Rômulo Maiorana. Com 39 edições até o presente ano de 2021, o outrora Salão Liberal se tornou um destaque para o cenário artístico e conceitual paraense, bem como para o próprio panorama nacional das artes visuais.
Nos diversos encontros entre artistas, pesquisadores e públicos visitantes do Salão, um potencial estímulo para a intersubjetividade se fez e se faz corrente. Uma vez que as possibilidades trans-formadoras ocasionadas pelo Arte Pará se davam de maneira mais discreta nos seus primeiros anos – o contexto de integração nacional e comunicacional de sua própria década de fundação era outro –, com sua maturação, essas perspectivas dialógicas ganharam também influências tecnológicas, influências estas passíveis de serem lidas como pistas de um processo de interculturalização crescente do próprio Salão, de Belém e, portanto, de parte da Amazônia brasileira.
Visualidade Amazônica no Arte Pará
O termo Visualidade Amazônica é um dos debates encontrados no próprio organismo do Arte Pará. Presente como conceito e prática artística desde os seus primeiros anos, sob um princípio plural e dinâmico, este termo tem no pensador João de Jesus Paes Loureiro e nos artistas Osmar Pinheiro Jr. e Luiz Braga suas referências fundantes.
Os ideais da Visualidade Amazônica foram amplamente debatidos no 1º Seminário sobre as Artes Visuais na Amazônia, ocorrido em 1984, na cidade de Manaus, sendo este organizado pelo Instituto Nacional de Artes Plásticas (INAP), sob direção de Paulo Herkenhoff. Deste seminário saiu o livro As Artes Visuais na Amazônia: Reflexões sobre uma Visualidade Regional, espécie de compêndio com a transcrição das conferências apresentadas. Este livro é hoje tido como um referencial documento histórico para se acessar alguns dos ideais pensados sob esta agenda.
Para João de Jesus Paes Loureiro, por exemplo, pensamentos-ações eram difusoras de um novo entendimento politizado para as artes visuais locais. Muito interessado em discutir a separação existente entre alta cultura e baixa cultura – e a atribuição corrente de alta cultura para o que vinha de fora e baixa cultura para a produção local –, o ensaísta elaborou um início de manifesto para fortalecer certo tipo de produção de imagens na Amazônia, com o claro intuito de “[…] servir a sujeitos concretos, em especial às classes populares, aos homens da religião, aos seres dos rios e dos campos, categorias de subalternos e marginalizados do processo controlado de nosso desenvolvimento” (PAES LOUREIRO, 1985: 114).
Osmar Pinheiro Jr. (1985), em operação contínua a de Paes Loureiro, contribuiu para ampliar este empreendimento. Para o mesmo, havia um aspecto sobrevivente na produção artística paraense, aspecto este que trazia pistas sobre como o presente estava ligado às experiências ancestrais de nossa história. Segundo suas reflexões, poderíamos acessar por meio de imagens posicionadas de artistas paraenses uma consciência ligada às tradições da cor oriundas das práticas da arte plumária indígena, assim como uma conexão entre nossa História Sensível, nossa Cosmovisão, nosso Ensinamento e nossa Ancestralidade. Diversas produções realizadas por artistas nesta porção da Amazônia, portanto, trariam a escolha de trazer em suas topografias a defesa de sensibilidades visuais locais, mesmo em tempos cujos códigos enfaticamente globais seriam melhor recebidos.
O debate em torno da Visualidade Amazônica ainda se mostra como um projeto político para um território multifacetado e em constante processo de ameaça e de exploração local e estrangeira. Abraçado por diversas e diversos artistas ontem e hoje, sua agenda Decolonial, criticamente engajada e plural pode estimular consciências ativas em torno da desigualdade global e contra os diversos tipos de neocolonialismos encontrados nas transações de bens e de mensagens.
Como um debate do início dos anos 1980 ainda pode ser transfigurado e atualizado para os processos complexos e polifônicos pelos quais algumas das Amazônias hoje passam? Quais são as imagens, os hibridismos e os tensionamentos de valor conceitual para serem revelados e estimulados em um mundo de constante e irrefreável reconstrução? É possível abraçar uma agenda em que o local está imerso em tempos múltiplos, sem perder de vista os localismos, as subjetividades compostas e os processos comunicacionais complexos que desafiam projetos interpretativos?
Arte Pará, Plataforma Artística e Educativa Híbrida na Pandemia
Desde março de 2020 que nos vimos assombrados por outras formas de ser e estar no mundo. As ações do Arte Pará para sua edição de 2021, não obstante, podem aqui ser tomadas como a mais nova resposta de um evento que pautou sua trajetória de acordo com as demandas dos tempos. É oportuno, neste sentido, observar em que medida as operações de incentivo artístico, cultural e educacional do Arte Pará negociam com os desafios postos pelas necessárias medidas de restrição social e pelos protocolos básicos de segurança em decorrência da pandemia de Covid-19.
Artistas e projetos artísticos nos mostraram, mais uma vez, a importância das artes para nossas vidas. As artes, culturalmente diversas e plurais, estiveram e estão em inúmeras ocasiões deste nosso recente contexto trágico: nos acessos ao audiovisual, na literatura companheira, nas canções que embalam nossos dias de apreensão, na construção de possibilidades outras de consciência artística, social e política.
Por sabermos que artistas e suas artes nos fazem companhia e nos ajudam a questionar e agir sobre contextos específicos, não deixemos de celebrar e de apoiar a produção destas e destes, bem como o papel que o Arte Pará desempenha na mediação e fortalecimento sensível e educacional para Belém e para nosso Estado do Pará. É por meio das artes que somos capazes de nos despertar para a realidade visível e de também sonhar e criar tempos melhores. As artes podem e devem aqui ser tomadas como as (im)permanências que ousam dar latitude a nossas imaginações.
Referências Bibliográficas
PAES LOUREIRO, João de Jesus. Por uma Fala Amazônica sobre a Cultura. In: HERKENHOFF, Paulo (Org.). As Artes Visuais na Amazônia: Reflexões sobre uma Visualidade Regional. Belém: Funarte/ SEMEC, 1985, pp. 111-122.
PINHEIRO JUNIOR, Osmar. A Visualidade Amazônica. In: HERKENHOFF, Paulo (Org.). As Artes Visuais na Amazônia: Reflexões sobre uma Visualidade Regional. Belém: Funarte/ SEMEC, 1985, pp. 89-100.