Guy Veloso

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Surf na Pororoca

Surf na pororoca, 2012, 04’35”

Sobre o artista

Guy Benchimol de Veloso nasceu em 1969 e trabalha em Belém-PA. É formado em Direito. Dá workshops e palestras no país e exterior. Possui diversas publicações nacionais e internacionais. Em 2011 foi curador-chefe de Fotografia Contemporânea Brasileira na 29ª Bienal Europalia Arts Festival, em Bruxelas na Bélgica.[2] Participou em 2017 da 4th Biennial of the Americas com exposição individual no Museo de las Americas, Denver-EUA. No trabalho “Penitentes – dos ritos de sangue à fascinação do fim do mundo”, fotografou 204 grupos religiosos laicos – muitos deles até então secretos – entre 2002 e 2019, sendo o primeiro pesquisador a provar a ocorrência dessas singulares manifestações (também chamadas de “Encomendação das Almas) nas 5 Regiões do país, com livro lançado em 2020.

“Penitentes” participou da 29ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo.

Guy Veloso faz uma espécie de romaria foto-metafísica por todo o país em busca devota das mais distintas manifestações religiosas como a grande procissão do Círio de Nazaré em Belém ao desfile da escola de samba da Portela. “O Carnaval do Rio é o acontecimento religioso da raça,” proclamou Oswald de Andrade no Manifesto da Poesia Pau-brasil (1924). Em carta a Carlos Drummond de Andrade (10/11/1924), Mário de Andrade citou uma sambista no carnaval do Rio que “dançava com religião”. Veloso fotograva com contrição procissões, romarias, os Penitentes do Nordeste, rituais dos indígenas Pankararu, cerimônias do candomblé, da umbanda e de estados de transe místico assemelhados dos evangélicos pentecostais, o Santo Daime, o Vale do Amanhecer, médiuns espíritas, budistas, uma cigana, como se buscasse aceder ao exercício do inconsciente religioso coletivo e múltiplo entre os brasileiros. Este é o campo da energia religiosa do êxtase.

Surf na pororoca (2012) é um vídeo bissexto de Guy Veloso que, no entanto não diverge de seu exercício rapsódico do sagrado na fotografia no Brasil. O artista agora aproveita a força da adrenalina provocado pelo esporte para contrapô-la completamente à energia do êxtase. A prática do surf em Karakakooa no Havaí foi comunicado ao Ocidente pelo capitão James Cook em 1776. Com o nome originado do tupi para estrondado, a pororoca um fenômeno natural produzido pelo encontro confrontacional das correntes fluviais na Amazônia com as águas oceânicas em certas fases de lua e produzindo altas ondas, sendo também chamada de macaréu. A pororoca foi descoberta pelos surfistas, não pela altura das ondas, mas pelo tempo e distância de alguns quilômetros resultantes do choque violento das águas da maré alta na direção do interior, contra a corrente do rio. Essa experiência inusitada, produz uma outra espécie de adrenalina que o filme de Veloso registra como uma excitação singular dos surfistas com a pororoca em São Domingos do Capim.

Numa posição próxima dos situacionistas, Guy Veloso filma Surf na pororoca para denotar implicitamente os resultados do desmatamento da Amazônia sobre o clima, já que o surf vem sendo declarado “extinto” no rio Araguari. O esporte disciplina o sentimento identificatório com os ídolos do espetáculo dos estádios (Paul Yonnet, Huit leçons sur le sport, p. 156) com aqueles que a fotógrafa Leni Leni Riefenstahl chamou de deuses dos estádios nas Olimpíadas de Berlim em 1936, em plena ascensão do nazismo. O projeto de Guy Veloso com Surf na pororoca é reafirmar o sentimento de identidade amazônica tão amoroso dos paraenses com seu estado como um valor valor. Entre o êxtase e a adrenalina, a arte de Guy Veloso se pauta por seu ethos da fotografia.