Mauricio Igor

A Pisa na Amazônia
Técnica: Videoarte
Duração: 4’58”
Ano: 2020
Premiado no “Imagens Cotidianas – Incentivo às Artes Visuais e Fotografia 2021”, promovido pelo SESC Ver-o-Peso, 2020.

De uma Belém a outra
Técnica: Videoperformance
Filmagem e Produção: Dori Nigro
Duração: 4’50”
Ano: 2020
Contemplado pelo Prêmio Rede Virtual de Arte e Cultura, Fundação Cultural do Pará, 2020.
Sobre o artista
Artista visual e arte educador licenciado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Pará, também realizou intercâmbio na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, em Portugal, como bolsista do Programa Santander Universidades Bolsas Ibero-Americanas.
Natural de Belém-PA. Seu trabalho é focado em reflexões sobre o corpo não hegemônico, atravessando questões de identidades em temas como miscigenação, sexualidade e o cotidiano amazônico. Tais processos se desdobram em fotografias, performances, vídeos, textos, intervenções e instalações.
Por meio destes, recebeu premiações e participou de exposições coletivas no Brasil e em Portugal.
Mauricio Igor vem desenvolvendo no campo das artes visuais, experiências de trabalhos que partem de reflexões sobre o corpo não hegemônico, atravessando questões de identidades inseridas em temas sobre miscigenação, sexualidade, decolonização e o cotidiano amazônico. As ações artísticas que Mauricio têm apresentado ao longo de sua trajetória, propõem a reflexão de um Brasil em meio às adversidades econômicas, sociais, políticas e históricas. Nesta Edição do Arte Pará, dois movimentos trazidos pelo artista se entrelaçam na presença das obras: A Pisa na Amazônia e De uma Belém a Outra.
Em A Pisa na Amazônia, o ventilador, objeto muito usual em Belém do Pará, suaviza o calor deixado pelo seu ambiente climático quente e úmido. Não ter o objeto em funcionamento é sinônimo de “brea” na cidade, corpo grudado pelo suor. Ao consertar seu ventilador, Mauricio movimenta a anti-brea, nos faz refletir que a permanência do vento é um ato que gira as hélices de resistência na Amazônia e no resto do País.
O Brasil convive com improvisos diários, em meio a gambiarras, agregadas a objetos, ao nosso cotidiano e ao nosso processo histórico. Estratégias para a permanência de nossa própria existência. Gestos que adesivam, amarram, colam e enrolam narrativas de sobrevivências. Os acidentes diários no país estão voltados não somente aos objetos, mas dentro do contexto de comportamentos negacionistas, de um sistema que reafirma a continuidade de construção de preconceitos, homofobias, feminicidios, xenofobias, onde corpos sociais quebrados permanecem se colando através de suas lutas e conquistas. O movimento da anti-brea presente na obra de Mauricio nos desgruda o suor, nos faz acreditar que um pincel pode pintar novas formas de continuidade de nossas existências, com ventos que movam para além, o suor das lutas tão presentes em nossa história.
O vento do “além mar”, movimentou a obra De uma Belém a Outra. Nesta, o próprio corpo do artista se desloca da cidade de Belém do Pará à cidade de Belém em Lisboa, Portugal. Um processo, que segundo Mauricio, é marcado pelos atravessamentos vivenciados pela sua ancestralidade. Um corpo racializado se movimenta ao encontro do “Padrão do Descobrimento” em Portugal, um monumento que insiste em se manter imponente, contando uma história que ainda homenageia figuras colonialistas. Ao entrar em contato com o monumento na Belém de Lisboa, os passos leves do artista levam consigo a chuva da tarde de Belém do Pará, Amazônia, Brasil. Mauricio monumentaliza-se de outra forma, seu corpo não está colado junto aos demais, é um corpo vivo, que permanece, que pisa, que movimenta e enfrenta a representação de uma história que dizima a sua ancestralidade. Seu gesto se torna mais gigante do que as figuras esculpidas. O movimento do artista na narrativa do seu discurso e em seu corpo performático, movimenta em nós o que deve ser questionado e considerado como Padrão.
Heldilene Reale
Professora, Artista, Curadora e Produtora Cultural