Nayara Jinknss

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Bença

Bença, 2020.
O meu lugar é minha pessoa favorita. E é onde está a força que existe em mim, a luz que me guia com sabedoria para o futuro, que me guarda e me livra de todo mal. Esse chão sempre foi mata e beira de rio. É onde transitam todos os santos, todos os cabocos, todos os pretos velhos e a nossa pajelança. Aqui é onde curo minhas dores e onde alimento corpo e alma, resgato e crio memórias. Onde nos encontramos e nos despedimos. 

Sobre a artista

Paraense de Ananindeua, Naiara Jinknss, é educadora social, documentarista, ativista LGBTQI+ e participa da Coletiva Mamana. Atua no mercado fotográfico desde 2009, nos últimos anos compreendeu a importância da representatividade e o cuidado que é necessário a registrar uma história, buscando fazer reparações históricas dando assim dignidade e às pessoas e lugares que já foram reduzidos a um estereótipo. Em 2020 Naiara venceu a 4ª temporada do reality “Arte na Fotografia”. do canal de tevê fechado Arte 1.

A artista Nayara Jinknss tem um daqueles olhares que demandam muita atenção para quem conheça a excelência da fotografia de veio antropológico de Belém. Seu universo em torno das pessoas e dos lugares é aparentemente muito semelhante a de outros artistas como Luis Braga e Walda Marques (obra com a mulheres vendedoras de ervas no Mercado do Ver-o-peso). Reconhecida o a dimensão paraense de Jinknss, sua singularidade passa emergir – sutilmente no início, impondo-se a seguir com veemente clareza. “Acho que o que eu mais gosto de fotografar são emoções reais e, de alguma maneira, acabar provocando quem observa minhas imagens,” declarou Nayara Jinknss. É assim na fotografia ou no vídeo. Certa vez, afirmei que as imagens de Miguel Rio Branco estabelecem a correlação entre pele e película, entre a epiderme das pessoas fotografadas e a película da cópia fotográfica. Jinknss pertence à ordens dos fotógrafos escultores sensuais dos corpos pretos como Pierre Verger e Mário Cravo Neto. Nayara Jinknss afirma que foi marcada pela Clarice Lispector com seu desejo de justiça; nisso ela comunga do inconformismo de Berna Reale com a violência do mundo. Nesta crônica, a citação de outros artistas de Belém indica que Nayara Jinknss se enquadra numa tradição foto-videográfica. Ademais, afirma que o Pará tem uma história da videoarte contínua e autorreferenciada, com potentes paradigmas visuais e valores estéticos próprios.

O vídeo Bença (2020) de Nayara Jinknss gira em torno do Ver-o-peso, como a fotografia Quando todos calam de Reale. O vai-e-vem de ações em cortes modernos das tomadas das cenas. O fluxo sequencial de passagens visuais e orais, é como o rio, num jorro de imagens, errâncias e deambulações mentais, ciclo existencial de vida e morte (um pombo jacente inerte e urubus esvoaçantes atrás da carniça), cabeças cortadas do comércio de carne, lâminas cortantes quase sibilantes, o Círio de Nazaré (Guy Veloso e sua fotografia sacra contrita), a procissão de corpos seminus com tatuagens, feridas abertas, cicatrizes da vida vivida, o vir-a-ser do seres – um é o outro, Como poeira ao vento (Dirceu Maués), correntões de aço ao pescoço como cadeia significante do inconsciente, empilhamento de paneiros (cestos) como metáfora das camadas significativas de Bença, partidas bachelardianas (“É preciso partir, não importa para onde”), “Eu venho de lugar nenhum e agora, vou para nenhum lugar”.